sábado, 31 de dezembro de 2011

Flores Virtuais

Flores virtuais
iluminam minha vida
em coloridos tons
e me arrebata
como por encanto
para tua tela
(dentro dela)

então te peço
em murmúrio

não me delete

Pintura "Leveza do Ser" de José Santos Aguilar

Deseja estar
cercado de amor
enquanto a vela
arde suave

arte em cor
que duela com emoções
cálida mão criadora
em tons que se harmonizam
longe do caos
solto em tela vazia

olha tua face
alma minha
és um bálsamo
colorido
que desnuda
toda pureza
na leveza do Ser

Poesia baseada no filme O Clã das Adagas Voadoras

Mei
flor primorosa
era uma espadachim
de rara beleza
que carregava junto ao peito
o segredo das adagas voadoras
uma cortesã cega
que cantava/dançava
num jogo de pedras e ecos

ele vento despreocupado
e brincalhão
vagava pela vida sozinho
indo e vindo
sem deixar rastros
sua mão direita
habilidosa com facão
a esquerda poderosa
com arco e flecha
pernas fortes
que dominavam a arte de voar

ela sentia
que poderia ler aquele homem
como um livro
ao encostar a cabeça
em seu peito
ouvindo as batidas
firmes do seu coração
ele o Mestre Vento
estaria em qualquer lugar
e a levaria
onde as verdadeiras flores crescem
em campo aberto

amaram-se entre os bambus
mas o destino
os fez descobrir
que pertenciam a lados opostos
e num próximo encontro
um teria que deixar
de existir

ela amorosamente
escolheu ser livre
como o vento
e ofereceu sua vida
para ele poder
vagar corajoso
entre os bambus
e campos floridos

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Pintura de Paul Kelley

Alguns fazem apenas confissões
bebendo uísque
com o olhar perdido
na fumaça do cigarro
só querem conversar
ela escuta com atenção

outros pedem em êxtase
que faça um strip-tease
à meia luz
ela sobe e desce
no pole dance
enroscada no poste
mordendo os lábios
provocando delírios

sabe ser desejada
diferente daquela mulher
que ele deixou em casa
uma cansada senhora de família
que espera seu homem
já entediada

era um sexy remédio
que vai salvar
esse casamento doente
quase acabado
em grave estado terminal

no espelho
aquela boca encarnada
uma profissional de espartilho
cabelos negros encaracolados
calcinha de renda preta
meias de seda
salto de cristal

agrada cada cliente
com massagens
óleos perfumados
relaxando na banheira
ou debaixo do chuveiro
com direito a elogios
regados de gemidos

faz um rápido aquecimento
antes de cada encenação
repassava o texto sempre
queria perfeição
fantasiava ser uma atriz
não era uma mulher barata
tinha o cérebro cheio
de valioso conteúdo
proibido para menores

quando termina o espetáculo
volta a ser uma mulher normal
igual as outras da sua idade
depois do banho veste o pijama
nem liga mais para vaidade
toma um calmante
sonha com uma vida diferente
ser um dia
uma mulher decente

Histórias às Avessas



esse Príncipe já veio com defeito
Pinóquio que mente descarado
trapaceia no estilo Capitão Gancho
engana seduz como um poético Don Juan
leva às nuvens como Aladim
em seu tapete mágico
e ainda rouba seu coração

essa Princesa
não é Gata Borralheira
muito menos a Bela Adormecida
( não dorme no ponto )
Branca de Neve tatuada
amiga íntima da Bruxa
trancou a Amélia no armário
subiu no salto
caçou o Lobo Mau
( e toda noite uiva para a lua
algemado em sua cama
enquanto ela fica nua )

domingo, 25 de dezembro de 2011

Ao tomar vinho
fico corajosa
perco a vergonha
mudo de idéia
esqueço compromissos
o sino muda o tom

foi ironia
te encontrar agora
vive secretamente
em constante duelo
com a paixão
um ateu numa aldeia
com agradável cheiro
de flor e mar

ficamos cúmplices
(sonhando ser jovens para sempre)
com excesso de informações
palavras querendo fugir
sem olhar para trás
- a vida se diverte
com nossa história

sou uma
a cada mudança da lua
tenho estranhos pensamentos
sonhos de poeta
esse dom de inventar milagres
coisas ao contrário
quero uma pausa
o medo lateja
envenena

olhas sem poder me ver
sente meu cheiro de longe
vago feito fantasma
por essas ruelas de pedra
sinto saudades de
momentos que não vivi
estradas que não percorri

recebo notícias
só tuas
e num rápido delírio
imagino ser esta mulher
que procuras

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Borderline



entre cordões e fitas
aparece radiante
como ingênua pin-up
de pele branca
boca vermelha
e malícia
procurando ser/querer
na instabilidade das emoções
vagando meio confusa
em seu desorganizado mundo

raiva frequente
sob bela máscara
roendo unhas
se auto-mutilando
numa incompreendida
ansiedade
efêmero encanto
que logo se torna vazio
leva ao tédio
com ciúme doentio
desvalorizando
seu visual vintage

- logo agora ficou mal
e tudo piora
com uma herpes labial
Existe algo
entre nossa alma
senti o poder
no momento
que te olhei

em dueto vivemos
todo o intermezzo
definindo o amor
numa nudez
de fúria e delírio

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Minhas palavras
são teclas de um computador
que me acompanham
no dia-a-dia.
Cortei a gentileza absurda,
mentiras risonhas,
pessoas que me assustam.
Preciso de espaço
mudar os cabelos,
tatuar a pele,
olhar no espelho
sem mágoas.
Não posso me abandonar
com medo estampado no rosto.
A esta altura da vida,
acumular tristeza,
nem pensar!
Confessar cada defeito,
miopia, celulite, alguma estria.
Rugas de expressão
adquiridas pelos anos,
momentos preciosos
misturados a dramas!
Fui minha própria curandeira:
- ler poesia de 4 em 4 horas
como medicação,
escrever de 12 em 12 horas,
calmante poderoso
anti-suicídio!
Escolho a cor do batom
dependendo do humor,
um vestido
que não deixe com calor.
Perfume atrás da orelha,
entre os seios e nos pulsos,
como aprendi desde menina.
Não esqueço os óculos escuros,
minha proteção do mundo,
onde posso tudo olhar
sem ser notada!
Tenho dias de ser tola
e carente,
passo as tardes a delirar.
Quando penso que não vou aguentar,
me deito e sofro em silêncio.
Choro baixinho
não quero atrapalhar o vizinho!
Entre lágrimas,
oro e repito:
- eu me amo!
a cada instante!
Até que o dia amanheça,
choro bastante
e já me sinto inteira
novamente.
Sina de guerreira!
Levanto com o Sol,
movida por essa Luz,
de alma lavada!
Não precisa ter pena,
a menina já foi consolada!
É hora de brincar,
viver de peito aberto,
relaxar, deixar se levar
pela maré da Vida.
Cercada de amigos,
livros, filhos,
cachorro, Amor,
Poesia, música,
fica difícil
permanecer
a Dor.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

quero a palavra
toda arte
em letra e rimas
respirar aliviada
parar o medo
evitar o tédio
contar segredos
favor mais manha
ira suada
sem dramas
longe do caos
perder o fôlego
repor o sono
menos razão
muita emoção
nada sacia
arder no sol
surfar nas ondas
do destino
boiar em calmaria
jogar toda tristeza
no mar
curar feridas
afagar cicatrizes
andar devagar
cutucar o sonho
orar com fé
entoar mantras
buscar a Paz
rir à toa
cantar em coro
olhar a lua
sentir saudades
falar verdades
viver em melodia
à meia-luz
misturar poesia
em bar e alegria
comemorar a Vida
brindar o simples
ato de Ser

domingo, 18 de dezembro de 2011

Sete véus atados ao corpo
que voam no giro da dança
me ensina a te esperar
enquanto me habita a criança

com rosas rubras de fogo
amor e paixão
eu te espio aflita
no meio da escuridão

nossas vidas tecendo o tempo
dois destinos que se cruzam
são apenas bons momentos
notas de uma canção
nessa longa espera
vou colorindo a emoção

sigo meu caminho só
numa triste conclusão
tudo passa
e se transforma
em ilusão

sábado, 17 de dezembro de 2011

Maktub


O amor chegou
nossa alma se tocou
parecia já escrito
no livro do destino
essa parceria
- triste ironia

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Viúva Negra



eu sei
esperei demais
excesso de romantismo
a tal da cumplicidade
rir em companhia
roçar de peles
dividir suor
intimidade

nas lembranças
que se perderam
junto com a inocência
pensei haver sufocado
todo sonho e esperança
numa espécie de funeral

desajeitado sentimento
de viúva enclausurada
acendi velas em ritual
rogando aos céus
de joelhos num lamento
que fechasse meu corpo
dessa paixão que alucina
malfazejo que dói
quebrando a harmonia
dentro de mim

mas fica sem eco
tudo o que peço
e toda intenção se torna vazia
quando por baixo do meu véu negro
minha boca carmesim
encontra a tua



quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ata-me ao pé da tua cama
numa cabana perto do mar
me apresenta o encanto
vida sossegada leve brisa

sou uma mulher insatisfeita
numa barca sem rumo
procurando bons lugares
e gostosas gargalhadas

a cada onda que quebra
peço que venha o amor
(aquele pra sempre)
tomando conta do corpo
entrando na mente

em seguida
vem o arrependimento
faço novo pedido depressa
antes que seja tarde
- ser livre de amarras
liberta dessas algas
que me prendem
que se enroscam na pele
me impedindo de mergulhar
dentro do mundo
vou assumir quem sou
rindo dos problemas
sobreviver às mudanças
não ter que me explicar
a todo instante
implicar com o menos importante

vou deixar portas e janelas abertas
escrever poesias nas paredes
dar ouvidos ao meu querer
já fui mais complicada
até descobrir o tesouro
- simples encanto de viver

faz tempo sequei minhas lágrimas
rezando por dias melhores
me despedindo da melancolia

abandonei uma agenda
lotada de compromissos
que me impediam de ser
eu mesma

vomitei toda a mágoa
e consegui dormir
longe do caos
em Paz

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011



Quais são teus planos
após me trocar por outra?
Um futuro incerto talvez,
onde tua felicidade mundana
insiste num caso de instante.
Ela não te conhece como eu,
nem vai saber organizar tua vida,
tuas gavetas, meias, camisetas.
Perfumar tua cama tão sagrada,
esticar o lençól do jeito que gosta.
Agora vai deitar em outra
cama qualquer,
em companhia de uma qualquer!
Esqueceu nosso amor,
a promessa de ficarmos juntos
até que a morte nos separe.
Conta conjunta.
Vida plena em conjunto.
Quem vai escolher teu perfume,
dar o nó na gravata,
te deixar impecável?
Preparar teu prato predileto,
servir teu vinho, tua sobremesa?
Vai suportar viver longe do calor
da nossa lareira?
Longe dessa nossa rotina diária,
aquecido nos meus braços,
massageado no corpo e no Ego.
Distante da cumplicidade
dos meus beijos,
meus desejos.
Tua mala eu mesma fiz,
e com classe,
para lembrar de mim quando abrir,
até no último momento.
Sentada na sala bem decorada
apenas aguardo tua chegada.
Me encara agora,
me olha e responde:
- como se atreve a trocar
uma mulher tão perfeita como eu,
por uma Vadia?
(Só não engasgue
ao responder
que o amor apenas morreu...)
A máscara é retirada.
Não venço nem perco.
Me liberto da perfeição!

(Foto de Elene Usdin)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Recolho
o melhor
da vida
guardo
dentro
mim

junto
pedaços
recrio
assim
me refaço

envolvo
a dor
com véu
do amor

no final
encontro
surpresa
um fundo
musical

posso
escolher
voar
ou apenas
dançar

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

na caminhada
provoco um karma
criando dívidas espirituais
faço minhas oferendas
honro os ancestrais

o caminho ao Nirvana
não é fácil e sem dor
há tempestades a enfrentar
não existe apenas o sol a brilhar

resistindo ao destino
me acabo em sofrimento
ao aceitá-lo flui harmonia
indo da maré baixa a maré alta
de infeliz a feliz
sábia em meio ao tumulto

viver é tão simples
como o movimento
do Sol e da Lua
agora entendo

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

São Mulheres

um ser feminino
dentro do outro
flores que se abrem
soltam pétalas e gemidos
um mesmo olhar
se revela no espelho
pequenas diferenças
algumas sutilezas
misturada em perfumes

olho no olho
pele na pele
boca na boca
seios se tocam

cada momento
dessa união
(toda essência)
acaba nascendo
um colar de afeto
montado sem pressa
dia-a-dia

o amor aconteceu
quem pode culpá-las?

Pintura de Paul S. Brown

terça-feira, 6 de dezembro de 2011


nasceu no corpo errado
com alma feminina
gestos delicados
menino especial
de sorriso angelical

encoberto
pelo véu
escondia o medo
esse segredo
de tentar ser
o que não é

se defende como pode
dessa vontade
cor-de-rosa
que de repente
não se prende

voa Caio
sonha afinal
com sua libertação
carnal
segurou
minha mão na sombra
me trazendo para a luz

pode bater na porta
sem medo
desata a língua
procura a voz
lá no fundo amo
de alma aberta
onde ele mora
e me namora

estou viva
me protege a luz

domingo, 4 de dezembro de 2011

na penumbra
sob a luz da lua
ele pressente o meu cio
sente o cheiro do desejo
adivinha que espero nua
beija molhado
tirando meu batom
liberta meu corpo
de todo pudor
me deixa úmida
vazando de paixão

esse homem que confio
me alimenta com sua seiva
ocupa minha alma
preenche meu vazio
me faz sentir única
ilumina minha Vida

entre mansas carícias
monta meu corpo
se deixa montar
entra na minha caverna
desvenda mistérios
me vira pelo avesso
com sua língua
em viagem louca
entrego a fruta na sua boca

esse homem me quer inteira
saciada/plena/esgotada
na total certeza
que sou sua
apenas sua

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

como uma noiva
sonhava com vestido branco
fantasiava ele chegando
andar decidido
olhar amoroso
coragem de guerreiro
fazendo a escolha fatal

onde morava a raiva
escolheu tecer paciência
engolia sapos por esse homem
insônia chá natural relaxante
buscava respostas no tarô
esperando o telefone tocar
a qualquer instante

(esperto como um lobo
farejava quando ela decidia
acabar com tudo)

decorava o texto do adeus
em frente ao espelho
com dignidade e frieza
mas ele aparecia
(ela já tremia)
subia um calor entre as pernas
se desmanchava ao mínimo toque
aquelas mãos tinham o poder
da leve tortura
perdia as forças
ficava tonta
sem vontade própria
matava aquela mulher forte
entregando tudo sem reservas

com o cheiro dele no corpo
sabia que o adeus
seria a solução
sua única salvação
dar o adeus também
seria morrer de amor
longe dessa perdição
e novamente chorou
abraçada ao travesseiro
triste final
de ser apenas
a outra

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Alice cansou
chega do tédio/mau humor/futebol
basta de implicar com suas roupas
seus cabelos pintados de vermelho
ele que fique com seus jogos virtuais
um tênis velho que não tira do pé
se adorando em frente ao espelho
um tipo comum/narcisista
ele não entende
não olha dentro dela
nem mesmo beija bem

só deixou um bilhete
na cama desarrumada
pegou a mala
partiu

não estava no País das Maravilhas
seja o meu escultor
re-criando formas no barro
esculpindo o mais belo sorriso
modelando meu corpo com tuas mãos

seja meu pintor
comigo dentro da tela
re-misturada em tintas matizes
mergulhada em cores
picelando minha vida de arco-íris

seja meu poeta
re-conheça a rima perfeita
navegando nas palavras soltas
no meio do soneto
em verso te inspirando
como uma musa da poesia

seja meu escritor
re-inventando uma história démodé
com direito a paixão/ciúme/segredos
um lirismo meio fora de moda
com final feliz

seja o meu sonho
onde eu acorde no Paraíso
re-coberta de algas e anêmonas
numa concha gigante
perdida no mar

seja o meu compositor
ao som de violino
re-velando todas as notas musicais
sem dó de me encantar
em sol a brilhar

seja o meu único amor
desses de deixar sem jeito
só de olhar/imaginar
etérea presença
sem vestígios
que ao encontrar
só nós saberemos
re-conhecer

domingo, 27 de novembro de 2011

muitas anônimas ou conhecidas
mulheres que sofrem caladas
nossas irmãs agredidas
por homens que beijaram suas bocas
que um dia chamavam de amor
sonho com todas livres
respeitadas na sua fragilidade
corajosas na hora do basta
não sei se mortas ou vivas
quando choram
quando gemem de dor
todo fulgor apagado
no corpo marcado
fazendo flores de papel
para encher os dias vazios
cercadas de arame farpado
a vergonha paralizando
corta o respeito
quebra o coração
e esse medo vira segredo
desamparado cristal

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

e a brisa como carícia
acendia o desejo na pele
perfumando o ar

vindo dos cachos da dama-da-noite
aquela sagrada sensação
florescia no púbis rosado

uma alquimia de emoção
inquietude amorosa
apenas alma e nudez

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Na noite
dentro do deserto
pediu com a voz rouca
que ele a amasse
sobre a areia

desejou a imensidão
no momento
da mais sagrada doação

desapegou de tudo
se buscou no silêncio

abrindo-se como uma flor

domingo, 20 de novembro de 2011

rega as flores no jardim
quer tudo perfeito
já que o todo o resto não está

a realidade causa desconforto
os rostos e as máscaras
de cada um no dia-a-dia
encenam uma triste mentira
anseios/ medos se escondem
já não existe questionamentos
aprenderam a con-viver com os normais
perambulam pela casa como estranhos

sabe que tudo é patético
mas a farsa continua

Letícia

pode ser uma menina comum
ou muito especial
brincando com suas bonecas
num faz de conta colorido
nova Barbie elétrica
de cabelo solto em desalinho
ou usando trança de Rapunzél

pode ser inteligente falar besteira
achar graça de um monte de asneira
inventar uma personagem qualquer
correr até suar e num mesmo instante
virar polícia ou ladrão
se escondendo atrás da porta
debaixo da cama
esperando a ocasião

pode pensar que é uma princesa
ou até mesmo uma fada
nunca uma bruxa má
ser generosa/esperta
com a inocência
- essa fiel amiga
sempre ao lado

pode ousar/querer
imaginação livre a voar
ter o mundo nos livros que lê
e nem esquentar a cabeça
companheira até o fim
se indignada fala palavrão
e roga praga
por causa de amiga ingrata

pode ter uns gostos esquisitos
curtir os bichos
toda amorosa/gentil
deslizando no escorregador dos sonhos
ou ir de carro/ bicicleta/pedalinho
curiosa do mundo atrás das lentes
dos seus óculos cor de rosa

pode tudo com essa energia
ser apressada
falar pelos cotovelos
com a mochila nas costas
carregada de alegria

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

se estivesse aqui
olharíamos o entardecer
observando a luz
devagar sumindo nas águas
tomando vinho ao luar
espantando os fantasmas
todo medo inseguro de ser/sonhar
tornando a vida mais amorosa
ouviríamos música
apreciando a natureza
em plena primavera
toda beleza florindo

daí onde mora
a milhares de quilômetros
num lugarejo distante
perdido entre tintas/telas
cores diversas
o sol não entra pela janela
apenas um vento frio
que congela tuas mãos
teu solitário coração
é inverno e te aquece
em frente a lareira
onde flui toda criação

nossos olhos não se encontram
vagam por terras deconhecidas
buscando imagens
pequenas lembranças
encantamento
te incentivo a buscar
o que sabes não existir
nossos corações
não nos pertencem
apenas doce ilusão

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Parindo Poesia


aprendi a ler nas entrelinhas
transformo em poesia
todo amor e nostalgia

questiono a vida no dia-a-dia
rogo por coragem
antes de cada viagem

respeito essa disputa inquieta
das palavras
num constante duelo
dentro de mim
querendo ser tudo
puritana devassa
frágil fortaleza
generosa perversa
homem mulher

quando pego a caneta
aguardo a idéia fantástica
que em silêncio se tece
feito gestação

se apossa do meu corpo
se entregando sem reservas
neste sagrado ofício da escrita
e tudo vira poesia
dentro do labirinto andava
sem pressa entoando mantra

não tinha mais nada a temer
já nasceu com a marca
de guerreira iluminada

mesmo sonolenta seguiria descalça
por caminhos desconhecidos
levada apenas pela intuição

sabia que algum dia despertaria
numa cálida manhã ensolarada
entre o perfume das flores

se banharia nua deitaria na relva
sentiria a vida fluindo por dentro
com os olhos úmidos de emoção

renasceria na Paz de uma oração

sábado, 12 de novembro de 2011

aprendi espantar o medo
não sei viver pequeno
emoção transborda
me encontro dentro
resgato tesouros
pérola na concha
sem segredos
inteira/intensa
de mãos dadas
com minha Paz

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

nasceu com asas
cheia de um querer aflito
tinha o mistério da dúvida
sutilmente malvada
dosando humor ironia
pra se defender do mundo
com ousadia
pisa com salto no coração
de quem se aproxima
corajosa
tatuou seus sonhos na pele
indecifrável
uma espécie em extinção
dorme em posição fetal
ao lado da solidão


Lolita sexy bonita
bagunça o armário
cabeça e vida dele
envolve em teias
tece a trama
ainda declama
a poesia lírica de Camões
seus olhos pintados
atingem a presa como uma seta
voz macia que envolve
promete acaricia
num emaranhado
confunde/domina/amarra
escapa entre os dedos
de quem a persegue

volta pra casa
apenas menina
deita
imaginando
que o próximo
será enfim
o seu amor
vamos
levanta dessa cama
seca essas lágrimas
olha o sol lá fora
toma um banho
se perfuma
larga essa capri
escolhe um vestido
tira o tênis
pega a sandália de salto
lápis no olho
batom na boca
a vida te chama
entra nessa luta
de peito aberto
com cara e coragem
me escuta
só tem um jeito
te transforma
tens o poder mulher
usa tuas armas
muda tudo
não te esconde
vira louca
arrebata esse homem

Inspirada na poesia ÁGUA DE LAVAR do Mario Pirata



amei verdade mentira fantasia
amei homem vício bares cigarro
amei vulgar olhar gesto lento
amei tintas telas espaço aberto
amei jeito moleque brincar jogar
amei verde natureza beleza
amei ficar partir entender sorrir
amei absurdo triângulo convexo
amei mergulho semente ventre
amei criança esperança ternura
amei livros poemas palavras rimas
amei bagunça pulsação paixão
amei menina amante mulher
amei cigana feiticeira odalisca
amei príncipe sapo bandido
amei espírito guia vidas passadas
amei intuição segredo coração
amei inteira entregue total
amei inocente culpada caos confusão
amei entediada esgotada estressada
amei cantar brincar sorrir rezar
amei música silêncio incenso
amei perfume shopping cinema
amei doce cocô abóbora sorvete
amei massa pizza cahorro quente
amei amigos filha filho avó e mãe
(agora eu apenas amo
renovada sábia incondicional
e isso acalma alma)

Inspirado no filme Memórias de Uma Gueixa



Chiyo tinha olhos como a chuva
água que lava a terra e apaga o fogo
- está um dia muito bonito para ficar triste -
com essa frase conheceu a gentileza e bondade
em forma de homem
ganhou um sorvete moedas
um sorriso que era um presente
- se tropeçar siga em frente -
deixou de ser uma menina
que olha para o vazio
quis ser uma gueixa
e entrar no mundo dele

uma gueixa não pode amar
era um mundo de mulheres
inveja/disputa/maldade
o sofrimento e a beleza
vivem lado a lado
vendendo habilidades
artista do mundo imaginário
julgada como uma obra de arte

ela se preparou
fez um homem parar
com um simples olhar
aprendeu a servir chá
mostrando o pulso
uma pequena parte da pele nua
esbarrando sua perna na dele
sem querer
de olhos baixos e voz suave
sempre com recato

agora não era mais uma criada
não precisava mais se ajoelhar
era a desejada gueixa Sayuri
quase uma lenda
quando fizer chá
quando servir saquê
quando dançar ou tocar
será apenas por ele
até ser achada por ele
até ser dele

fez uma promessa secreta
trancaria a foto dele
junto com o coração
e esperaria
dançaria com graça e leques
debaixo da neve fina
e esperaria
passearia entre as cerejeiras
sob uma leve chuva de flores
e esperaria
no mundo de regras
e todas as estações do ano
amava e tinha esperança
com paciência esperaria

-se uma árvore perdeu as folhas
e seus galhos secam
pode ser ainda chamada de árvore?-
o coração morre lentamente
como folhas caindo de outono
uma gueixa é uma sombra
ela é um segredo
só pode ser metade de uma esposa

agora ele seria seu protetor
e aquela menina
teve seu desejo realizado
 

brincava de boneca
numa casinha toda rosa
sem entender as regras do jogo
montando sem pressa
as peças do quebra-cabeça

pulava amarelinha
escrevendo com giz no chão
céu/inferno
onde esconde esconde
esse monstro imaginário
era apenas brincadeira
polícia/ladrão
besteira

cantava "se essa rua fosse minha"
e nessa hora até sorria
no caderno
seu desenho era o sol
que na sua fantasia
aquecia todo medo

(estava quase anoitecendo
só a lua por testemhunha
desenhada na janela)

no meio da escuridão
o pavor ainda era maior
e dentro da sua inocência de menina
não entendia essa dor
de olhar para a porta
e entrar seu algoz

- papai chegou

Frida Kahlo



“ Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?”

inteiramente surreal
solta na imaginação do absurdo
ferida aberta que sangra
amiga íntima da solidão

paixão devorando a carne
prisioneira do amor vício
numa entrega total
sem juízo e compromisso
na cela invisível de Diego

ousadia viajando na tela
lavando a alma
entre cores inquietas
ultrapassando todos os limites

emoção plena dentro da tormenta
colecionando perdas sem fim
em sua vida amputada
insanidade rasgada

em êxtase/lágrimas/dor intensa
fez moradia na beira do precipício
florescendo nas cicatrizes

encanto eterno
respingando lamentos
com tintas pincelando a vida
na sua arte que voa livre

eterna
transformou seu Ser imperfeito
em beleza e coragem
entoando
uma triste canção
na frente de uma tela vazia

“Espero a partida com alegria...e espero nunca mais voltar...” Frida

Batina




por acaso
ele a viu nua
sem concentração
viajou em fantasias
pensamentos confusos
noites em claro
orando por salvação

desorientado
no meio das filosofias sagradas
suores-tremores-sonhos
perdeu-se tonto de paixão
por essa simples visão
esquecendo sua mais sublime missão

Mundo de Alice


inventei boas lembranças
vivia feliz nesse mundo
do faz-de-conta
Alice no País das Maravilhas
e nosso porta-retrato
era a imagem da alegria

você cuidando de mim
lendo histórias de fadas e gigantes
levava na escola
auxiliava nas lições
comparecia às reuniões tão chatas

teríamos pequenas diversões
saborear sorvete de chocolate
algodão doce/maça do amor
andar de roda gigante
trem fantasma
e todos os medos fugiriam de mim
porque meu herói
me protegeria dos perigos da vida
até o fim

acordei
(triste realidade)
não gosto de parques
me cuido sozinha
e parei de fingir

emboscada




da tua boca
escorre veneno
detalhe pequeno
que não me detém

pressinto emboscada
armadilha da paixão
não resisto
me atiro suicida
sem rede de proteção

Feitiço




havia magia no ar
lua cheia
bruxas em volta da fogueira
energia da noite
pedi força e coragem
hoje e sempre
incenso queimando
odor de sândalo
ritual sagrado
com banho de ervas
poções diversas
no caldeirão fervendo
suplicando aos deuses
Gaia mãe terra
que ouçam o chamado
pétalas marcam nosso caminho
o fogo da vela
com a chama tremulante
mas a luz do amor
é sempre constante
com os olhos fechados
eu desejo
que esse encantamento
se consuma
te vejo
te sinto perto
dentro de mim

domingo, 30 de outubro de 2011

Bravo!



nesse cenário retrô
com cortinas/sofá/abajour
escolhi a personagem
como no teatro
e fiz a maquiagem

em cena
cantei meu lamento
caprichando na emoção

mesmo tendo ensaiado
meu texto muda
conforme a lua

com participação especial
de velhos fantasmas
e personagens coadjuvantes
(aquelas mulheres
que fazem teu instante)

em movimentos imperceptíveis
vou tentando manter a linha
dessa protagonista heroína
no rosto uma máscara
impecável de indiferença
(eu tão boa atriz que
até tomei vinho sem tremer)

num gesto com a mão
apontei para a porta onde
estavam tuas malas

(em meu universo poético
não tem mais lugar
para tua vulgar pantomina)

você se arrependeu/chorou/sofreu
na sua última e ótima interpretação

com dignidade e frieza
fechei a porta
após tua saída
agradecendo os aplausos/gritos
dessa imaginária casa lotada

chorei
sozinha no camarim
olhando tua foto
sorrindo pra mim