terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Nua e Tua

ávida da vida
rompi meu casulo
sem dor

envolta
em mistérios
criei danças
com o vento
e as marés
- para cada fase
da lua

quero a marca
dos teus dentes
no meu ventre

vem
me arranca
o véu do pudor
e derrama
teus beijos

liberta
meus desejos
era um caso
secreto de amor
meio filme de Fellini
com aperto no estômago
e arrepio na nuca

tudo fazia parte
das preliminares
a escolha da lingerie de renda
o colar de pérolas
adornando o pescoço
o elegante vestido preto
e a dignidade
se equilibrando num salto

no canto discreto
de um bar
a mão dele sob a sua
uma possibilidade latente
de entrega
o desejo se formando
em suaves goles
de um licor de baunilha

difícil resistir
aos apelos
do velado convite
de olhares

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Pintura de Jia Lu

no quadro
matizes que lembram você
amantes misturados
em cores puras
que bailam
aos olhos
de quem vê

nessa insensatez

pintada a óleo
eu viajo
e ao teu lado
renasço


domingo, 26 de fevereiro de 2012

imaginação feroz a nossa
até o chão tremia
naquele cenário sobrenatural
onde viviam espíritos
fantasmas bruxas
cavalos alados

no jardim
ouvíamos histórias
estranhas
de um duende
de pernas e braços
(finos e curtos)
o rosto verde
como uma folha
de árvore

entoávamos
mantras budistas
pelas almas dos
que partiram
pensando
se um dia
nos encontraríamos
no além
ele pediu
com a voz rouca
- abra bem as pernas
encantada
obedeci

depois enlouqueci

Voyeur



nua
entre
as cortinas
da janela
do quarto

espiava
com deleite
o casal
em pleno
ato sexual
fecho os olhos
relembro
cada momento
e deito
com a calcinha
molhada

tudo em segredo
deitada na areia
toda nua
sob a luz do luar
fechou os olhos
e esperou

como um final
de onda
em calmaria
ele chegou
e lambeu
começando pelos pés
tudo que
apeteceu
em telas
tintas e pincéis
viajo
nos apelos
do corpo

pele nua
roço nos pelos
me perco
nos teus dedos
dentro de mim
sabe seduzir
esse homem
como ninguém
é tão intensa
verte desejo
no olhar

adivinha o detalhe
que vai queimar
procura por segredos
esmiuça as emoções
e se insinua
em lascivas intenções

é travessa
se embaraça
arde em provocações
e mesmo disfarçando
estimula toda história
se arrepia inteira
só imaginando

ela é faceira
sabe o que deseja
o deixa sozinho
em chamas
e nua
vai dormir
com o travesseiro
o solo era sagrado
e lá vejo a menina
aninhada na tranquilidade
do bosque
com histórias da carochinha

com o sol encoberto pela folhagem
eu recitava poesia
para uma platéia de ecos
sempre buscando o suco
todo extrato
toda a essência
na eterna busca sem recato
de ser uma mulher inteira
( nunca mais pela metade )

pedia que a verdade
fosse posta acima da beleza
escrevendo minha história
nas páginas da vida
com suor das batalhas
recolhendo as sobras na derrota
e festejando cada sucesso
honrando a sinceridade
acima de tudo

com os olhos
voltados para o céu
repito a mesma frase
que me espanta e emociona
bem baixinho

- me faz voar

Alzheimer

que mal é esse
que tira a vida aos poucos
faz perder o brilho
esquecer das palavras
escurece o olhar
deixa cansado
irritado
dentro desse mundo
desencantado
perdido em apatia
mal de fases malditas
confusão mental
neurônios que morrem

que mal é esse
que deixa desleixado
embaraçado
em teias de agnosia
e apraxia
leva a demência
tira de cena
mata a memória

que mal é esse
que te transforma em nada
te afastando sem dor
do amor que semeou

Desejo Reprimido

provou do veneno
ficou nas nuvens
incendiada
queimando por dentro
assustando
a alma pacífica

ele a leva
a lugares desconhecidos
onde tudo é intenso
nua em frente
ao espelho

ah, que sensação
provar a insanidade
do desejo

os dois perdidos
numa sinfonia
macia
como o roçar
dos seios dela
sobre o peito dele

olhos fechados
e solitários
delírios em dança

eternizados
na distância

Ilha

aqui é
um lugar
para passos
silenciosos
onde sinto
inteira união
com elementos
sol-lua-mar
nada te detém
criatura egoísta
apontas o dedo
julgas e condenas
mas tuas lágrimas
não são de amor

apenas culpa

Ostras Coisas



do mar
azul
da ilha
nada sei
nada achei

apenas
boa energia
levei

sábado, 11 de fevereiro de 2012


dias sombrios
que chegam
de repente
(como tempestade)
invadem nossa mente
escurecem nossos olhos
e nos afogam
em lágrimas

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Delírios dos Mortais

  • lembro dos nossos planos
    conversando noite a dentro
    sonhando com viagens
    imaginando que poderíamos tudo
    com coragem e bravura
    até salvaríamos o planeta

    e era tanta sabedoria
    ilusões sem fim
    I Ching-cartas de tarô
    mandalas-feng shui
    um prazer intelectual
    de aprender todos os mistérios
    mergulhar nas magias
    segredos ciganos
    astrologia-numerologia
    toda alquimia

    éramos seres bizarros
    guerreiros da paz
    perdidos em devaneios
    olho no olho
    juramos ser eternos otimistas
    prestar atenção nas palavras
    nos atos
    na energia que vibra
    no que semeia

    - os bons são a maioria
    você repetia sem parar
    acreditei em cada palavra
    seríamos fortes
    mesmo se tudo desse errado
    poderíamos recomeçar sempre

    lembro da primavera
    nossas longas caminhadas
    heróis encantados
    cegos de crenças
    procurando a essência da vida
    entre as folhagens do jardim

    éramos assim
    cheios de vontade
    errando pelo caminho
    e ainda encontrando a saída
    onde estava toda a nossa fé
    auras-carmas- dharmas
    amuletos- anjos protetores
    quando uma bala perdida
    tirou tua vida

    longe de ti
    perdi a vontade
    de sonhar
    agora acabou
  • ela ensaia uma dança
    em frente ao espelho
    ao lamento de um blues

    acabou
    uma história
    de amor
    que a levava
    ao delírio
    e ao inferno

    grata e feliz
    por ter terminado
    com esse homem
    que a consome
    ela
    como uma louca
    acaricia
    o próprio corpo
    fervendo de desejo
    e raiva

    exaurida
    apenas
    murmura
    - sou tua

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

recolhida
em sagrado
templo interno
procuro
equilíbrio perfeito
longe do medo
ou incerteza

surge uma prece
na mente quieta
que acalma
indica direção
novos horizontes
floresce harmonia
cura a alma
ferida

sábado, 4 de fevereiro de 2012

de fino trato


seria sofisticada
aceitando teus convites
para jantar
à luz de velas
saboreando vinho
enquanto
examino os itens
do cardápio

mas minha
natureza rebelde
impede de agir
como uma Lady

apenas quero
desnudar a alma
tirar os saltos
e andar
de pés descalços
nasceu uma menina delicada
em seu mundo rosa
cercada de bons sentimentos

após ser vítima de traição
se tornou independente
uma fera valente
de boca e unhas vermelhas
olhar de feiticeira
e brilho de quem fez pacto
com alguma força sobrenatural

engoliu toda a mágoa/desaforo
brigando a socos com sentimentos piegas
essa alma ferida que ama liberdade
nem ao menos escuta conselhos
passando longe de sonhos estúpidos
e todo folhetim romântico barato

agora é uma mulher
que faz tudo pelo seu prazer
ela pensa/age
como um homem
e se apaixona a todo instante
não teme o abandono
nada perturba seu sono

exercita o jogo da sedução
olho no olho hálito de hortelã
cerca com toques distraídos
planeja cada detalhe da caça
numa espécie de dança que excita
o desejo aumenta se torna urgente
acabou a brincadeira
não perde tempo com besteira
já toma iniciativa e domina o jogo
re-vira tudo do seu jeito

ele cai nessa cilada
se atira no abismo
encantado por essa mulher intensa
que usa/monta
se lambuza
e goza poderosa

e nem entende no final
quando ela solta sua mão
e avisa que é hora de partir
sem ao menos seu número
do telefone pedir

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Gentleman



jaz
um vestido
com estampas
florais no chão

enquanto ele
desnuda
minha alma
com emoção
Você solitário
no inverno
eu ardendo
no verão

jogamos
palavras
pela janela
ao vento

e nossos
desejos
voam
feito pássaros
perdidos
em busca
de abrigo