domingo, 29 de abril de 2012

Tela de Paul Niladri

percorro a praça
pisando
nas folhas secas
de outono

flutuam
flores mortas
nas águas paradas
da fonte
do recanto chinês

sinto teus olhos
no meu caminho
um oceano
entre dois olhares

cabisbaixa
desço
por uma rua
qualquer
se abre pra mim
que crio raízes
glicínias púrpuras
dentro de ti

abocanho

uvas rosé
da tua boca
me alimento

mato a sede

na tua saliva
de vinho tinto

sinto

sei
serei
tua
um
dia

pressinto

quinta-feira, 26 de abril de 2012

chega a hora
que chorar
minha senhora
não é solução

esquece esse drama
muda teu jeito
já despencou do abismo
e no chão ficou

aquece o sol
tua dor
flores da cerejeira
caem leves
sobre teu corpo
fortes raízes
ainda sobrevivem
dentro de ti

sozinha
domou a razão
encantou o mundo
soltou a emoção

não existe
nada pequeno
ao teu redor

o vento
embala teu sono
cobrindo de areia
a velha armadura

seca as lágrimas
tira a venda dos olhos
e escolhe
o caminho

não te encolhe
Santa Anarquia

convido a fera
que mora dentro de mim
para tomar chá com biscoitos

a danada joga areia
nos meus projetos de vida
destrói os castelos
pisoteia e esparrama
impede sonhos

sua meta
é me transformar nela
ser ela

descubro em agonia
que ela sou eu
desconfiada
assustada
pequena
ferida

quero o controle dessa criatura
vira desumana quando aflita
carrega uma ironia perigosa
impaciente
indomável
ansiosa

ah essa outra é ardilosa
desliza feito cobra
se esconde atrás das portas
entra nas gavetas
usa como disfarce
máscaras coloridas
(e consegue)

quando desperta
(é de repente)
ninguém sente

vira mulher poderosa
incendiando o que vê pela frente

ou criança perdida
que faz birra e chora

maldita insuportável
só dá pena
Baseado no poema de Júlio Alves, lido em Oficina:

debaixo da pele
esqueleto
conjunto de ossos
no final
vira pó

(compacto na tua bolsa
poeira nos móveis
pólen na flor)

pó que cheiro
vira vício

pênis
sêmen

homem
sou
se ficar nua
acredite
não é só
a roupa
que dispo

não fica
descoberto
apenas
braços
seios
púbis
pelos
pernas

se ficar nua
para ti
(além do corpo)
a alma
te revelo
doce iguaria

teu corpo
um banquete
saboroso

incendeia

minha vida
e
minha cama

domingo, 22 de abril de 2012

tenho receio
de olhar no espelho
encontrar minha sombra

andarilha da vida
te aguardo
numa esquina qualquer

quero o sol
campo de girassol
casa antiga com lareira
papel de carta perfumado
azeitonas verdes na boca

muitos
livros amantes
espalhados pela cama
livros novos velhos
ácaros espirros

uma coruja me espia
de longe
veio trazer sabedoria
embrulhada para presente

adeus aos pesadelos
- pior é autocrítica
o dia inteiro

quando penso que amo
tudo desanda
viro do avesso
meu estômago re-vira
e quando desperto
sigo acreditando

la dolce vita
- Que estranho essa dor de cabeça
que não passa.
E a Maria que chamo
e não me escuta.

Senta, levanta e caminha.
Segura na barra de ferro.
Sente calor. Muito calor.
Sacode a ponta do vestido rosa,
estampado com flores amarelas.
- Que flor era mesmo aquela?
Não lembrava o nome
e antes sabia.
Sabia tudo.
Entendia tudo.
Conversava sobre tudo.
Vários assuntos da vida,
do mundo.
Agora dividia
seu dia-a-dia
com a solidão,
cadeira-de-rodas,
bengalas canadenses,
comadre, fraldas geriátricas,
idosos, recordações,
remédios, tédio.

O que a gente faz
nesse planeta azul?
Um planeta cheio de velho,
velha,
abandono,
doença,
tristeza,
medo.

- Peço água, água!
Planeta de merda!
Na casa, chegou sacos, sacolas,
grandes bolsas.
Ação em conjunto. Doação.
Mas nada prestou.
Muita roupa rasgada,
suja, encardida.
O resto do resto.
Inútil. Sem valor.

- Será que pensam
que sou um monte de lixo?
Se me doaram lixo,
lixo eu sou?
Não sei mais quem sou.
Eu quero um prazer,
algo decente.
Urgente!

Eu quero água agora.
Maria, me dá uma alegria.
Água,
por favor.
meu
sagrado
meu
profano

ora
oro
e
ora
inflamo
ao amanhecer
desce as escadas
relaxada

calcinha na bolsa
e ainda com vestígios
do fluído dele
dentro dela

(sandália prateada
vestido amarrotado
cabelos em desalinho
hálito de hortelã)

nos lábios
um leve sorriso
de satisfação

no rosto
maquiagem invisível
na expressão desarrumada
que torna bela
toda mulher
que foi amada

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Santa Anarquia



convido a fera
que mora dentro de mim
para tomar chá com biscoitos

a danada joga areia
nos meus projetos de vida
destrói os castelos
pisoteia e esparrama
impede sonhos

sua meta
é me transformar nela
ser ela

descubro em agonia
que ela sou eu
desconfiada
assustada
pequena
ferida

quero o controle dessa criatura
vira desumana quando aflita
carrega uma ironia perigosa
impaciente
indomável
ansiosa

ah essa outra é ardilosa
desliza feito cobra
se esconde atrás das portas
entra nas gavetas
usa como disfarce
máscaras coloridas
(e consegue)

quando desperta
(é de repente)
ninguém sente

vira mulher poderosa
incendiando o que vê pela frente

ou criança perdida
que faz birra e chora
insuportável
e maldita
dá pena
no bar
pela manhã
observo a vida passar

adoço o café
com gotas
inconformadas
de saudades

engulo
o primeiro
gole amargo
misturado
a revolta
de anjo frustado

penso intrigada
no pequeno príncipe

sou mesmo
responsável
pelo que cativo?

ninguém responde
e no silêncio
choro
dia movimentado
céu ensolarado
ando apressada
na avenida

atravesso rua
corro do ônibus
carro moto
caminhão
e ladrão
quando bebo
fico arisca
aponto o dedo
digo verdades
não minto a idade

quando bebo
sai da frente
sou perigosa
- se fugir
minha seta
alcança

quando bebo
a língua é afiada
como navalha

ai, só atrapalha
teu colo
sempre presente

em longa espera
me aguarda

me chama
me ama
me atiça
me toca
me lambe
me mete

de longe
pressinto

te sinto

quinta-feira, 19 de abril de 2012

ele vai perceber
que gosto de romance
sou leve e manhosa

que por dentro sou quente
arrepio ao menor toque

que vibro e estremeço
me encaixo nele
como ninguém

que pinto a vida
com as cores da alegria

e meu desejo mais secreto
é me esparramar
na sua cama

ele vai perceber
eu sei

domingo, 15 de abril de 2012

acordei
menina faceira
pulando amarelinha
que consegue
enfim
chegar ao céu inteira

inclinada
na beira do lago
toquei de leve
em carpas coloridas
peixes dourados
avermelhados

dei boas risadas
sem maiores preocupações
deixando escapar borboletas
do ventre aberto

abri o baú esquecido
retirei meu cristal
empoerado
e levei ao sol
com velhos poemas
manuscritos
amarelados
papiros

descalça
caminhei entre as pedras
uivei andei de quatro
corri com lobos

hoje sou mulher
nada me perturba

O Amante de Lady Chatterley

Lembro que era ainda adolescente, quando li "O Amante de Lady Chatterley" de D.H. Lawrence, e fiquei encantada.Poderia até citar como o livro que despertou minha sexualidade...
No meu entender, aquele Clifford cheio de vitalidade, que voltou para casa numa cadeira de rodas, era um verdadeiro hipócrita metido a moderno.
Me identificava com a solidão de Connie, que ficava isolada dentro de um enorme casarão ouvindo discos e tocando piano até altas horas da noite.
Até que passeando pelo campo, encontrou o caseiro da mansão se banhando - um torso esculpido de um Deus grego - e desejou aquele homem naquele instante.
E aquela imagem-tormento não saia do seu pensamento. Era uma mulher dividida entre o angelical e o animal da natureza encarnados no ser humano.
No filme, que também assisti muitas vezes, ela aparecia nua em frente ao espelho com um véu cobrindo o rosto e acariciando o próprio corpo, enquanto pensava nele.
A primeira vez que se amaram, foi no chão de uma cabana com urgência e sem tempo de se despir, tamanho era o desejo!
A partir daí, a paixão explodia debaixo das árvores. Era bom tocar nele... tanto que ela sentia vontade de chorar e apenas se consolava tocando seu piano...
Sonhavam ficar juntos para sempre. E essa promessa foi selada com pregos numa árvore. Ela seria apenas dele na floresta.
Na cabana do caseiro, amaram-se com delicadeza à luz de velas.
Tudo era real, o céu, a lua... E ela dançava nua sob a chuva que caia.
E ele cobria seus cabelos e corpo com flores do campo.
Aquela paixão toda encantou meu coração de menina e ficou marcado que na floresta ou em qualquer lugar, ela seria sua mulher para sempre. E esse amor foi coroado com flores no final.
Acho que toda mulher carrega pela vida, seu personagem marcante... e acredito que até hoje, se assistir ou ler o livro novamente, ainda vou suspirar por Mellors e o seu cachorro e desejarei ser Lady Chatterley.

cavalgada



depois
de montar
teu corpo
nesse galope
selvagem


acabo
suada
exausta
no final
da viagem

quinta-feira, 12 de abril de 2012

alguma coisa
aconteceu naquela casa
o sol que entrava
pela janela era o mesmo
porém algo havia mudado
desde que ele olhou
dentro dela

sentiu que não poderia viver
no mundo
onde ele não está

fingiu ser tudo natural
até forjar momentos alegres
ir a festas
dar boas risadas

mas onde
a suavidade e ternura?

onde a pureza
daquele amor?

no fundo
ficou uma vazio
uma dor

terça-feira, 10 de abril de 2012

foi na bola de cristal
que enxerguei aquele homem
despencou em pleno inverno
corpo humano morno
com pelos e idéias

minhas mucosas ardiam
em frente a fogueira
enquanto ele se aquecia
diante da lareira

inspirada em chamas
fogo incêndio
pedi chuva
cascata
rio mar
amar amar

e quando ele chegar
que atire água
venha desaguar
apague a dor
toda agonia contida
minha culpa
e máxima culpa

que me veja pelo avesso
atalho para genitália
dispa a fantasia
nade transparente
mergulhe dentro de mim
sendo nós dois
apenas um

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tela de David Graux

eu te olho
e você sente

te quero quente

dentro de mim

e tantos beijos
fluídos
sabores

ai que morro de amores

Tela de Paul Kelley

Notei que o tecido pintado a mão
virou capa de almofada
largada no sofá vermelho
o bonsai num canto da sala
lembranças que voltam
ao som de bossa nova
e canto do canário belga
café na cama todas as manhãs
e ainda me dizes que tens
minha lingerie de seda
na gaveta do criado mudo
teu olhar não é mais o mesmo
nem o meu
talvez por um segundo
sejamos eternos
ou não

domingo, 8 de abril de 2012

rocei tua vida
e tua pele

me proteje agora
minha máscara de jade

não me olhe desse jeito
que sou frágil
enlouqueço

nem tudo que digo
é o que pareço

confesso
no canto da boca escorre
uma gota de veneno
depois da chuva de granizo
ela entrou
espalhando magia pela casa

olhar suave
de quem já viveu tudo
e nas mãos de criança
trazia apertado junto ao peito
a esperança

ombros pequenos
na medida certa
mas confortáveis para
os amigos

achava que nada era por acaso
tudo acontecia
porque era justo e perfeito
tinha um significado

forte intuição
enxergava além
mania de captar emoção

viajava em vidas passadas
através dos sonhos
recebia respostas
visitas de druidas
e amigos invisíveis

no seu caminho
só havia beija-flor
de um lado margarida
bem-me-quer
mal-me-quer
do outro girassol
girando em busca
do sol sem arrependimentos

não sabia se era anjo
ou uma bruxa disfarçada
mas vivia em eterna agonia
entre o sagrado
e profano

guardava amigos
como quem coleciona
pedras preciosas
ametista jade topázio
quartzo branco rosa
e de todas as cores
imagináveis

aprendeu
com a força das palavras
(tudo o que pedia conseguia)
devido a pedidos inconsequentes
agora se deixa levar
apenas surfando
nessa maré infinita
sem medo de se afogar

viveu tudo
pela dor e pelo amor
agora nem mesmo mente
apenas sente

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Tela de Antonio Tamburro

eu sei
foi sem querer
que te agradei
por ser assim

uma mulher

cheia de incertezas
movida a lua
e guias protetores
anarquista com valores

uma mulher

que senta na praça
escreve poesia
não resiste
come o lanche
antes da hora
e lambe os dedos
no final

uma mulher

que caminha pela rua
se aquece ao sol
borda os momentos
em colcha de retalhos
depois dobra
com cuidado
com respeito
e guarda no baú
das recordações

uma mulher

agitada em tempestade de idéias
aflita quando ferida
armadura sempre à mão
atenta as ciladas
se esgueirando pelo chão

uma mulher

que pisa macio
tem o riso solto
fala tranquila
carrega virtudes nos bolsos
senta numa pedra
olha o horizonte
e espera

uma mulher bagunçada

revirada
se inventa a cada dia
usa salto quando triste
pinta a boca de vermelho
se perdida

uma mulher

que chora debaixo
do chuveiro
lava o corpo
lava a alma
deixa escorrer
toda amargura pelo ralo
enxuga com a toalha
que consola

uma mulher

perplexa diante do mundo
conta histórias
se identifica com outras
lutadoras
oferece a mão
o colo
e sabe ser inteira

uma mulher

que procura seu espaço
tem nervos de aço
arrepia com a doçura
se emociona com a vida
e se entrega com paixão

uma mulher

que vira bicho
protege a cria
abraça o mundo
alcança vôos mais profundos
encanta com seu balanço
seu riso
e aguarda sinais
para viver em paz
um mudo convite
se esconde na boca
entreaberta

o decote ousado

deixando aparecer
parte dos seios

um leve sorriso

que insinua desejo
no vermelho do batom

transparência

revelando o corpo
que grita

cruzada de pernas

leve roçar de braços
e pele

ele fumando

bebendo seu licor
ela divagando
perdida em sensações

faria loucuras

por seu beijo
mas ele nem sente
o desejo
ignora os sinais

esse homem

lateja dentro dela
mas não mata
sua fome
enamorei-me de ti
um pouco
todos os dias

a cada conversa
poema trocado
instante vibrante
beijo molhado

a cada olhar
que entra fundo
faz pulsar o mundo
e o pelo eriçar

por tua paciência
fala mansa
e discreta elegancia

enamorei-me de ti
nossas salivas
onde teu hálito de vinho
se mistura a minha canela

nossas peles
onde teu perfume madeira
roçou meu cheiro de madressilva

nossos fluídos
onde teu sêmen me procura
e encontra fêmea
aberta em cio
não me envergonharia
chegar serena
no teu jardim primaveril
com meu leve vestido amarelo

desarrumar tua vida organizada
mexer em tuas gavetas
espantar teu tédio
misturar as tintas
beber teu vinho
jogar fora nossos remédios
ouvir o alegre cantar dos pássaros

me encanta imaginar
essa paz bucólica de aldeia
novos rumos e poemas

invadir teu espaço
másculo e reservado
deitar na tua cama nua
como uma imagem do teu quadro

escrever poesia
em frente a janela
do teu quarto

quem me dera

A Megera In- Domada



vestia um traje
de seda chinesa vermelho
uma mulher temperamental
viciada em bobagens
e pequenos detalhes

no espelho ambaçado

do banheiro
sentia que a ira tremia
dentro dela
- de vez em quando
acontecia

mania de tocar na ferida

abrir a cicatriz já curada
fazer sangrar novamente

enquanto incendiava solitária

nessa fogueira
feito tocha humana
ele apenas ignorava
fingindo dormir
- sempre atento

homem calado

que irrita demais
e de repente excita
muito irrita
muito excita

ela queima

por baixo do traje
de seda chinesa
vermelho
nesse desejo que arde
murmura o nome dele
entre os dentes
- latejo ardido

o homem

pula ágil de repente
sabe que esse fogo
só ele consegue apagar

depois que passa a fúria

essa mulher
sabe ser generosa

e goza

quarta-feira, 4 de abril de 2012

deitada
em nuvens
olhos fechados
sinto as gotas
do óleo
perfumado
nas costas nuas

aguardo
tuas mãos
tântricas
que vão
contornar
meu corpo

confesso
que nesse instante
poderia morrer
e acordar
no céu

Sem Tempo Para Sofrer


Não consigo
ficar amargurada
por muitas horas.
Um analgésico
para dor de cabeça,
xarope que cura
tosse seca,
antibiótico
para dores maiores.

Minha mente
voa contente,
acredita
que nada é por acaso.
Canto debaixo do chuveiro,
sou transparente,
gosto de mostrar os dentes.

Me habita
a fera encarnada
que tenta sujar
a alma limpinha,
( aquela que aguarda
o mundo perfeito).

Escrevo um poema remédio,
que cura minha ressaca.
Um batom que disfarça,
perfume, vestido
um beijo,
que mate meu desejo.

Não vou aguentar
ficar quieta
no canto da sala.
Eu sou uma mulher
que lateja entre as pernas,
fica úmida de paixão.
Saliva. Sente saudades.
Culpa? Quase nada!
Apenas respiro fundo!

Fico ofegante!
Aguardo os próximos erros
para mais coisas aprender!

Preciso destruir a dor
antes que ela me destrua.
Oro de joelhos.
Imploro e lamento.
Choro aliviada.

Amanhaceu,
o sol invadiu meu quarto
não quero ser chata.
Ainda bem
que minha agenda
está lotada!

domingo, 1 de abril de 2012

brotou
no teu deserto interior
uma flor
de rara beleza

resiste aos ventos
ao sol
às tempestades
(e sem lamentos)

com requinte
soubeste semear
em teu árido solo
preciosos momentos

e foi merecedor
do perfume
da "gira" flor

ironicamente
agora falhaste
ao cuidar do frágil
sem o devido zelo